O Lula nos ouviu e cobrou. O Obama, deve ser surdo.

- Eu tenho a honra de chamar o presidente d…

(Interrupção. Uma pessoa fala algo no ouvido do Primeiro-Ministro Rasmunssen, que coordenava a reunião)

- Desculpe, uma pequena mudança. Tenho a honra de chamar o Presidente do Brasil.

O quê? O Lula vai falar de novo? Deve ser importante. E lá fomos nós, correndo para frente de uma tevê, prestar atenção no discurso.

- Estou frustado, começa o presidente.

E assim foi, destrinchando sua [nossa] frustração com os países desenvolvidos, de improviso, sem discurso pronto.

- Ontem, participei de uma reunião com os políticos mais importantes do mundo, mas não sei se deveria ter ido. Me lembrou dos tempos de sindicalista, quando tinha que discutir com os chefes…

A reunião a que ele se referia era a reunião onde diversos chefes de estado e de delegação tentavam negociar alguma coisa palpável para assinar aqui em Copenhague.

- Não é tudo sobre dinheiro, continuou. Ele não resolveu nada no passado, nem no presente e não resolverá no futuro. Os países tem que se comprometer com metas, e não ficar barganhando os números em portas fechadas. Se precisar, o Brasil esta disposto a se comprometer em por dinheiro na mesa. (UAU)

Lula continuou. - Queria poder assinar o acordo mais perfeito aqui [nós também], mas se não der, não iremos assinar qualquer coisa.

Logo depois dele veio o Obama (que era quem o Rasmunssen estava prestes a chamar antes).

E com o Obama veio o posicionamento de chefinho..

- Os Estados Unidos já fez a sua escolha. Agora é hora para que todas as nações do mundo se unam para enfrentar as mudanças do clima. (sugerindo que elas se unam à posição americana, obviamente).

Só esqueceram de dizer para eles que todas as OUTRAS nações do mundo já se uniram em torno de uma das propostas mais sérias que foi colocada na mesa nestas duas semanas, MENOS os Estados Unidos, que a dilapidaram como se houvesse petróleo escondido dentro dela.

Em seu discurso, Lula não falou por si só. Falou pelos países em desenvolvimento. Principalmente os grandes. Disse que o Brasil se compromete a passar de receptor a doador de recursos se sairmos de Copenhague com um bom acordo. Demonstrou que os países em desenvolvimento tem flexibilidade e disposição para negociar. Disse que ricos e pobres tem que trabalhar juntos para chegar a um acordo.

Juntos.

Durante todo este ano, cobramos ações do presidente Lula em relação ao clima. Cobramos que ele viesse para Copenhague. Sugerimos que o Brasil tivesse uma meta e, mais recentemente, que se comprometesse com apoio financeiro para os mais pobres.

Em seu discurso, o presidente deixou claro que ouviu as demandas do Greenpeace e da sociedade civil. Ao fazer isso, assumiu uma postura de liderança e proatividade que lhe renderam elogios e que podem ajudar a mudar o rumo das negociações.

Em uma conversa de corredor, ouvi um ministro de algum país dizer para um jornalista:

- Esse presidente Lula, do Brasil, é o herói do dia.

Em frente a todos os outros, Lula fez o correto. Agora, ele tem que convencer os outros chefes de Estado a deixarem suas diferenças e mesquinharias de lado para o bem comum.

Ainda temos esperança. Apesar de estar no fim, o jogo não acabou. Todos sabem o que tem que fazer. Só falta o essencial. Fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário